terça-feira, 31 de março de 2009

Poem



The season changes color, how many times have we changed color with it? My feelings quiver like an unwilted flower. And I think of you.

The words that we sing make a pleasant melody. All I need is you by my side. If there are birds who haven't lost their smiling eyes. If you can't see the shining of the stars at night.
I'm wrapped in you, as though you were sunbeams streaming through the leaves. That is my strong and unchanging vow. If this is a dream, then I don't care. Overflowing with the radiance of love, the happiness of going toward tomorrow is real.
The love to you is alive in me. Every day for love, you are aside of me. Every day.
You quietly relieve me. Even of the sad memories that I have left. I missed being blown on by the gentle wind, like playing. You who are vivid and fluttering, snatch me away.
The season changes color, how many times have we changed color with it? My feelings are like an unwilted flower. If this is a dream, then I don't care. Overflowing with the radiance of love, it colors my heart. I'm always thinking of you.
The love to you is alive in me. Every day for love. You are aside of me. Every day.

(L'ARC~en~CIEL)

segunda-feira, 30 de março de 2009

Fantaisie


Eu vejo na sociedade a fantasia constantemente sendo massacrada e empurrada contra as ilhas nauseantes de realidade. Vejo-a sendo ojerizada como distúrbio, alienação, fuga, imaturidade ou padrão psicológico amarrado a uma interminável Síndrome de Peter Pan.

Quem consegue sobreviver sem fantasia nesse mundo paranóico, implacável e inflexível?

Reconheço que ficar preso a uma época infantil de forma negativa, vetando o processo de amadurecimento é problemático como toda estagnação o é. Mas, como se pode ridicularizar o imaginário ou taxá-lo de incabível?

Eu acordo para ir cumprir minha rotina diária, bater o ponto e retorno de noite para casa com a sensação de satisfação mais nutrida por mim mesma do que pelo sistema desgastante na qual nos movemos a passos trôpegos. Nos intervalos, nos ônibus me refugio na música, em meus amigos, em meus livros, na minha escrita.

Observo os olhares cansados, mortos e anestesiados daqueles que caminham nessa metrópole febril. Quase sugados até os ossos de insatisfação e desgosto.

A fantasia nunca me alienou ou me serviu de pretexto para não me mover adiante. Ao contrário, sempre tive livros como “Harry Potter”, “O Pequeno Príncipe”, “Peter Pan” como verdadeiros mestres. Será que porque sou imatura, infantilizada ou incapaz de compreender um cânone?

Na verdade, já li muito também outros autores como Oscar Wilde, Hermann Hesse, Thomas Mann e Jose Saramago. Erudição é uma questão interessante. Porque amando a escrita como amo, obviamente remexo nas linhas a qualidade poética e o talento nato das palavras.

Mas sei remexer também nas entrelinhas a energia humana. O valor minucioso que parte de algo mais profundo que erudição, no sentido vulgar da palavra, não alcança.

Fantasia constitui de forma vulgar (muito, aliás) um mundo estabelecido unicamente para as crianças.

No mundo infantil, porém, a linguagem é simplificada. Muitas vezes, os instintos prevalecem. Gravita uma interessante atmosfera enigmática de mil possibilidades. Os heróis possuem real bravura e uma moral prática. Nas suas frases curtas, empregam força de algo que fatalmente esquecemos.

No nosso mundo cotidiano e real, a linguagem é extensa. Ambígua. Maliciosa. Hipócrita. Nossos instintos também prevalecem mascarados de intenções. Nossa atmosfera possui enigmas desconstruídos para dar lugar a mitos falhos e fálicos. Nossa bravura é questionável e interesseira. Possuímos Ética cômoda. Nossas frases são longas e vazias. Esquecemos já o que queríamos dizer há alguns anos atrás.

A Fantasia não nos desvincula da realidade. Mas nos reconecta com partes perdidas de nós mesmos que são dissipadas entre os dedos de Chronos. Talvez, possamos voltar a ser inocentes e impedir que a excelência humana seja resvalada inteiramente. Talvez, possamos recuperar bravura para questionar, indagar, somatizar...

Nunca permaneci anestesiada ou apática. Nem nos meus piores dias.

Mas também nunca permaneci chapada, indo de encontro a regras unicamente para fazer barulho e ser notada, para me sentir superior àquilo que sou.

Nunca questionei ritos religiosos porque o ser humano carece de símbolos, simplesmente por precisar. Para ligar-se ao transcendental sem abandonar esse mundo. Mentiroso é aquele que diz não precisar deles.

Nunca acreditei em fantasia programada e montada que algumas vezes vendem sob forma de arte (a arte charlatã). Filmes “cults” de enredo nebuloso e secundário. Acúmulo de imagens bonitas sem propósito, destino ou objetivo. Nunca aceitei sexo como anestésico para meus problemas (apesar de ocasionalmente utilizá-lo como mito). Nem amor como justificativa para atos infames ou degeneração do ego. Nem multimídia para substituição do outro.

Nunca acreditei em relações frágeis, virtuais, efusivas, parasitárias, simbióticas e traumáticas. Nem em reclamação e falatório sem ir para as ruas viver e experimentar um pouco de vida. Nunca acreditei em autopiedade . Em egocentrismo. Em a vida é assim. Ou eu sou assim mesmo, não posso mudar. Todos fazem assim. Fiz assim a vida inteira. Minha maneira é a melhor. A voz do povo é a voz de Deus.

Nunca aceitei a “fantasia” que a realidade reedita e nos entrega, dizendo como bruxa de conto de fadas: “Provem. Tudo pode ser mais simples... A vida pode ser mais interessante... Vocês podem viver em paz.”

Viver na paz que a realidade oferece é aceitar a morte. Aspirar a real, a verdadeira Fantasia é dançar sobre os túmulos. Remontar-se. Enxergar. Exalar bravura. Dar as mãos à Emoção e Razão, mãe e filha que cismam em separar.

Precisamos voltar a experimentar o mundo simples. De sentimentos simples. De necessidades simples. Que se tornam complexos em profundidade, mas não em valor. De silêncio que interpela. De frases lidas que respiram.

De: fadas morrem todas as vezes que alguém diz não acreditar nelas. Foi o tempo que perdeste com tua rosa, que fez tua rosa tão especial. Ou é preciso ter paciência...

É preciso rituais... Os homens do teu planeta cultivam cinco mil rosas num mesmo jardim e não encontram o que procuram... Basta que pensem em coisas boas... A verdade é bela e terrível e portanto, deve ser tratada com grande cautela. Wendy queria crescer, mas não queria deixar Peter Pan. Quem ama, sente a alegria antecipada. Wendy nunca esqueceu Peter Pan. Mas Wendy cresceu.

A Fantasia preenche os espaços vazios, as lacunas, os hiatos.

Sejamos princesas a serem salvas. Em calabouços de nós mesmos. Bruxas a serem derrotadas. Compreendidas. Heróis a se moverem por uma causa e não por si mesmos. Reinos a serem limpos. Podemos ser páginas a serem lidas. Reescritas. Bravura. E eles viveram felizes. Não para sempre. Mas enquanto buscaram felicidade. Porque viviam em um reino distante. Era uma vez... Era... Ainda é... Haverá sempre magia. Será. Mundo em miniatura atingindo pontos vitais do mundo maior. E eles viveram.

Sonhemos. E assim, lembraremos de acordar.


quinta-feira, 26 de março de 2009

How low. How low. How low.


Venha como você estiver. Como você já foi. Como eu quero que você seja. Como um amigo. Como um amigo. Como um velho inimigo.
Venha no seu tempo. Se apresse. A escolha é sua. Não se atrase. Pegue o resto. Resta você, amigo. Como uma tendência, como um amigo. Como uma antiga lembrança.
Venha afundado na lama. Com suas roupas alvejadas. Como eu quero que você seja. Como uma tendência, como um amigo. Como uma antiga lembrança.
(KURT COBAIN)

domingo, 22 de março de 2009

Mermaid


"Maria Contreiras ainda guardava em padrões trôpegos, asfixia encoberta, a memória corpórea de dedos invasivos. De beijos invasivos. Da untuosidade do sangue em meio a rupturas brutais. Lembrava-se de membrana rompida e de alma tremendo aprisionada em corpo. Lembrava-se de como era desejar com cada fibra, célula, capilar a própria morte.
Do estupro que sofrera aos dezesseis, os médicos constataram dois dedos quebrados, um braço fraturado, dois nervos rompidos, escoriações nas mãos, hematomas sobre a superfície das pálpebras, três dentes quebrados, um deslocamento na mandíbula, na pélvis e uma fratura no joelho direito. E em uma análise geral, podia se constatar que a mente teria ainda mais problemas menos óbvios, invisíveis ao raio-X.
Pobre Maria, pensavam todos... Talvez tivesse um futuro brilhante pela frente em outrora. Mas agora, estava ferrada demais e tudo se misturava nesse borrão amargo com gosto de vida onde suspiros pesarosos entrecortam os hiatos.
E ela não superaria a perda de Isabelle. Sobre esse assunto, nada se dizia porque Maria não abriu a boca por semanas e se refugiou em si mesma para chorar a ausência daquela presença ausente. Distante e ainda assim tão enraizada em seu núcleo, Isabelle.
Maria se silenciou e aos poucos todos acreditavam que morria. Definhava como as coisas bonitas arrancadas do mundo definham. Em seu pranto mudo, achavam que costurava sua própria mortalha.
No entanto, Maria voltou a pintar semanas depois. Séria. Com os dedos ainda fraturados. E deu início íntimo e conturbado à revolução pequena, calada e histérica que se revolvia algumas vezes dentro de si. Como estopim, escoamento de tudo que lhe feria com brasa e agonia.
A vida era injusta e lhe roubara tudo que tentara preservar guardado em santuário sem altar.
E como já se falou da Revolução, sabe-se da Revolução do Chile que palpitava nas ruas que circundavam Maria e seus familiares. Do barulho de vozes, armas, imprensa, democracia e força motriz de nação que rangia sobre o solo estreito da América sulista.
O mundo mudava e Maria nada tinha a dizer.
Porque sentia tanto que sua voz se dissolveria na tentativa de aprisionar os solavancos de abstrato. Da dor que confunde e retalha as vísceras, o espírito e algo mais que se soma a tudo presente no santuário.
Então, entre pinceladas violentas, entre a vontade de atravessar telas com tinta, de gritar sem mover um músculo em seu rosto, de chorar toda dor que de tão pesada aniquilava todos os outros sentimentos, tomando-a inteiramente para si, tudo se transformou em voz. Em voz que se vê. Que se toca.
Como se sabe, contrariando a todas as expectativas e desenganos de diagnósticos, ela permaneceu em seu ateliê.
Pintava.
Mesmo quando a dor-amarelo-agonia, tornou-se mais densa e se transformou em vermelho-ira-coágulo.
E as pinturas de Maria Contreiras três anos depois viriam a se tornar conhecidas no Chile como as pinturas mais tristes do Ocidente. Mais tarde, as Américas se tornariam pequenas e os quadros de Contreiras chegariam a Amsterdã e Londres. Voz percorrendo o vento e tropeçando sobre as cabeças. Dor arrancada da raiz humana enfileirada em exposições. Agressivas. Sublimes.
Cizos pendurados como colares em paredes. Dor cáustica. Tudo que pode ser trágico porque Maria tinha sanidade em risco. Precisava gritar.
E ainda sem nada dizer, ela se afundou em relacionamentos fugazes. Em solidão estratosférica. Em mundo de cores e artistas. Em vinhos caros, tequila. Em lembranças em preto e branco do dia em que um fotógrafo colocara Isabelle ao seu lado, capturando seus cabelos desgrenhados, seu deslocamento perturbador.
Maria aprendeu a chorar também com tinta óleo. Pois em si, tudo secava. Todas as emoções pairavam naqueles quadros violentos. Sem perceber, se tornava fria. Exauria-se. Tanto quanto suas pinturas ardiam em febre.
E nada mais há para se dizer. Porque a vida prosseguiu. Silenciosa e barulhenta.
Telas grunhiam. Arte cantando por ela. Em dó maior."
(Ao útero- Rafaella Pastana)

sábado, 21 de março de 2009

"Tenha até pesadelos se necessário for, mas sonhe..." (Pagu)

(Pagu/Patricia Rehder Galvão- Publicado n'A Tribuna, Santos/SP, em 23/09/1962)

Pagu
(Rita Lee)

Mexo, remexo na inquisição
Só quem já morreu na fogueira sabe o que é ser carvão
Eu sou pau pra toda obra, Deus dá asas à minha cobra
Minha força não é bruta, não sou freira nem sou puta
Porque nem toda feiticeira é corcunda, nem toda brasileira é
bunda
Meu peito não é de silicone, sou mais macho que muito homem
Nem toda feiticeira é corcunda, nem toda brasileira é bunda
Meu peito não é de silicone, sou mais macho que muito homem
Sou rainha do meu tanque, sou pagu indignada no palanque
Fama de porra-louca, tudo bem, minha mãe é Maria ninguém
Não sou atriz, modelo, dançarina
Meu buraco é mais em cima
Porque nem toda feiticeira é corcunda, nem toda brasileira é
bunda
Meu peito não é de silicone, sou mais macho que muito homem
Nem toda feiticeira é corcunda, nem toda brasileira é bunda
Meu peito não é de silicone, sou mais macho que muito homem



Patrícia Rehder Galvão (Pagu- 1910- 1962) foi militante, escritora, fez parte do movimento antropofágico e do grupo esquerdista, ao lado de Oswald de Andrade, Geraldo Ferraz e Raul Bopp. Dedicou anos de sua vida à luta na esfera cultural e deixou para o mundo um conjunto de obras provocativas, intensas e explosivas. Acho muito digno. Excelente, aliás.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Quarta-feira

By: Priscila Azulay

Quarta-feira é dia. Tudo sempre acontece na quarta. Parece que tem mais gente nas ruas, nos ônibus. Sempre tem mais coisas pra fazer.

Pra mim, pelo menos, desde criancinha, era sempre o dia em que as aulas iam até mais tarde. Era sempre o dia que começava com dois tempos diretos de matemática e depois dois de português. Era também o dia de cursinhos de inglês e ginástica. Nada contra todas essas coisas (bem, contra matemática eu tenho). Mas tudo junto num dia só ninguém merece. Estão falando em interdisciplinaridade. Já vem tarde, porque finalmente matemática, português, física e história fariam sentido juntos. Enquanto isso, podiam estudar melhor essa distribuição. Qual o problema com a quarta? Só porque não está nem cá nem lá tem que ter tudo de cada um? Aí, fode...

E estudar astrologia seria bom também para organizadores do calendário escolar. Quarta-feira é dia de Mercúrio, deus dos mensageiros. Por isso o mundo está sempre cheio de coisas a serem ditas na quarta. Tem que sobrar tempo pra gente bater papo também.

Vinte e tantos anos e cá estou ainda na luta toda quarta. Rafa também. Nessa última não podia ser diferente. Oito da manhã, "Prática de Ensino", que pra Rafa significa acordar às cinco da manhã. Que não vai ter prática nenhuma antes de dar a volta ao mundo pra saber de horário e afins.

Vamos Rafa e eu pro Fundão depois da aula. Na volta, a primeira bizarrice do dia. Um cara na van dando em cima de mim. Acreditar no destino é uma merd@, porque me faz dar corda pro primeiro maluco que aparece, não importa onde. O cara começou lendo o meu jornal comigo e terminou me oferecendo o headphone pra escutar com ele. Não é que o gosto musical batia? Rafa vira pra trás, se assusta, e discretamente: “Quem é?” Não sei. Acabei de conhecer. E ela, como já me conhece, releva. Valeuzão, Rafa. Você é muito compreensiva. E desculpa quase fazer você correr comigo atrás da van quando me toquei de que fui idiota não pegando o e-mail do doido. Todo doido reconhece um igual. Em outras palavras... não preciso dizer. Talvez eu o encontre numa comunidade do Orkut; “Pegação na van”. Se não tiver, eu fundo. E alguma hora ele entra.

Deixando o maluco de lado, chegamos em casa sob o sol de meio-dia e sabendo que a luta ainda estava no meio. Almoço, uma horinha pra reinar no sofá, e fora de casa. Atrás do estágio. Passando um papo furado de tapioca na praia, convenço a Rafa a ir andando. A expectativa de uma tapioca a cada esquina nos motivava a seguir. No final, porr@ nenhuma de tapioca. Desculpa de novo Rafa, mas eu adoro caminhar contigo!

Na escola, descobrimos que não dava pra descobrir nada. No caminho de volta, sentamos no Habibs (se escreve assim, essa poh@?) da praia. Finalmente, um descanso. Papo vai, papo vem. Ventania vai e vem... Um relâmpago vai, outro vem. E quando nos demos conta, estávamos ilhadas no meio do dilúvio, abrigadas apenas pela barraca do Habibs. Dois rapazes israelenses (ou suecos, ou húngaros) estavam presos conosco. Pena estarem com a mãe. Bem que eles tentaram se chegar quando nos viram tremendo de frio. Rafa estava encolidinha tentando se aquecer e o israelense (ou sueco ou húngaro) começou a fazer gestos para ela, dizendo que não sentia frio nenhum. Que sentia muito calor com o nosso clima. Com um sorrisinho fez cara de sedutor israelense (ou sueco ou húngaro).

Safadinho, não?

Duas horas depois, quando a chuva deu uma (pequena) trégua, pegamos um táxi gelado, no qual o taxista me deu um forão quando pedi pra desligar o ar condicionado. Ensopadas, parecendo dois pintos molhados, chegamos em casa. Nos munimos de guarda-chuvas (pro diabo com a reforma ortográfica! Hífen, é nós!) e fui deixar a Rafa no metrô. No metrô, um homem barbudo e à toa queria levar todos para Caxias e se esgoelava na estação Siqueira Campos, dizendo que quem com ele estava, estava com Deus. Seria melhor ele como divino, apresentar então uma arca para atravessarmos o dilúvio. A chuva a essa altura, voltara a ser torrencial.
Terminamos o dia "felizes", com sensação de deveres cumpridos, e a Rafa com um pique admirável pra quem tinha acordado tão cedo!


Essa mulher não dorme nunca. Isso é um mistério. Juro. Parece uma coruja.

Falando em animais, não posso esquecer de mencionar o felino malhado e filhote que encontramos na UFRJ, que fez o maior pouco caso quando o pegamos no colo, mas que é lindo de qualquer jeito e é o mais novo mascote da Letras!

Fora isso, quarta-feira é sempre uma droga. Só lamento.

Particularmente, nem gosto muito de utilizar blog com a finalidade narrativa do cotidiano. No entanto, Priscila produziu esse texto e me senti no direito/obrigação/desejo de publicá-lo. Porque é fato que nem toda quarta-feira é catastrófica, mas que a maioria dos desastres ocorrem de fato na quarta.

E a melhor maneira de combatê-la é com bom humor. Essa quarta foi tranqüila (trema forever!) em relação a muitas outras bem piores. No fim de tudo, o que se sobra é o risinho. Bom humor nela! Valew, Priscila! ;)

quinta-feira, 19 de março de 2009

Let's make love and 'write' death from above...


“30 de agosto

Caro Klaus,

É patético o modo como os homens comportam-se, achando que no seu dia-a-dia já encontraram ou tocaram todas as sofisticadas belezas e sensações que o mundo pode oferecer. Sinto-me agora como um dos maiores ignorantes de minha época.
Agora, posso enxergar-me claramente e ver que jamais apalpara a sã consciência de algo superior. Somente tocara resquícios empobrecidos e miseráveis.
É graças à ti, sobrinho adorado, que pude contemplar a luz ontem à noite. Tê-lo em meus braços com a intensidade com que te entregaste a mim foi como ser assolado pela mais plena alegria. Ainda tremo ao lembrar de teus olhos tão cálidos e embaçados por filetes de felicidade que brotavam de teu coração.
Tocamos o Paraíso com nossos dedos ávidos. Era como a Índia de minha infância que quero que um dia conheças. Senti o aroma característico e a paz que há muito não sinto. Vi-te chegando até mim com tatuagens de henna por teu corpo mirrado e murmurando orações no mais exótico dos dialetos. A mais bela “Padma”. Uma Flor de Lótus com enormes olhos verdes e cabelos claros que caem sinuosamente por um rosto que faz poetas suspirarem. Ontem, pude enxergar meu amor quando o toquei. Não somente o ópio levou-me para essa maravilhosa realidade alternativa onde tu eras minha noiva. Minha princesa indiana.
Nossos sentimentos são os principais responsáveis. Para o inferno com coerências e verdades absolutas que nos forçam a acreditar. No fim de tudo, é melhor a loucura. Podemos ser como quisermos. Nada mais será como o que foi há tempos que parecem distantes como sonhos embaçados e mofentos. Meus olhos tornaram-se maiores com tua graça, Klaus. Cada beijo que trocamos foi uma afronta a esse mundo e um passo para aquilo que chamas de Inferno. Nossos gozos são lírios em teus lábios ou em minhas mãos.
O momento que te conheci veio à minha cabeça. Lembro-me de que apesar de tua inocência já perdida na noite em que te toquei pela primeira vez, tremias como uma virgem que é apresentada ao carrasco. Havia medo no mar barulhento de tuas pupilas. Dei-te a oportunidade de recusar-me. Porém, com tua coragem da qual ainda sou um servo que se ajoelha, tu aceitaste. Tu fechaste teus olhos de boneca e pensaste: “Eu irei com ele. Eu quero fazer parte de seu mundo...”. Agora já é tarde demais, amor....
Tarde demais até para tua juventude que me lembra as flores de primavera que antecederam seu tempo de desabrochar e acabaram perecendo na neve de uma manhã sem harmonia.
No fim das contas, como todos os infelizes, possuo emoções. Mesmo que digam o contrário não sou um mero devasso que pratica as mais incabíveis luxúrias sob seu teto...
Dentre as minhas mágoas, desconheces a maior delas. Esta me assola quando encontro-me sozinho em meu gabinete e projeto-te diante de meus olhos daqui a alguns anos. Vejo-te como um homem e não um jovem precoce. Consigo visualizar-te usando roupas sóbrias e escuras, deslizando languidamente com cabelos bem cortados por entre nevoeiros densos de uma Londres moderna. Teu destino, deduzo eu, seria a casa de alguém de tua idade que cortejarias.
Eu, por minha vez, já estaria morto observando de algum lugar os conservadores que ainda estivessem vivos cuspirem com gosto sobre meu túmulo. Ou então, estaria louco e inválido, vivendo uma vida miserável. Seria um estorvo decadente para ti. Todos os dias antes de saíres para encontrar a pessoa com quem te importaste, olharias-me com rancor e uma mistura de asco e pena. Tu me ojerizarias. Um velho que precisaria da ajuda de terceiros para ainda assim viver uma semi-vida. Lembrar-te-ias com pesar daquele tio que o envolvera em sua vida triste, apontando-lhe um mundo de nojeiras fétidas.
Eu choraria com meus olhos opacos e morreria a cada dia.
Não nascemos na mesma época. Talvez seja esse meu castigo.
Não há somente o presente. Existe um futuro incerto e exigente que me faz lembrar o tempo todo que a minha velhice é um breve murmúrio de derrota perto de tua exuberância e frescor juvenis.
Ironicamente, não consigo mesmo assim me afastar de ti. Acho-te muito parecido comigo. Comemos da mesma imundice e bebemos da mesma latrina. Porém, todos teus pecados são perdoados por tua pouca idade. Pouca idade esta que talvez um dia amaldiçoe. Se daqui a alguns anos, no entanto, minha vida for o martírio, aproveitarei esse presente extasiante. Através de meu sentimento por ti, vejo todas as cores de um mundo muito superior a este. Um mundo onde o sol é quente e avermelha tuas faces pálidas.
Permanecerei contigo até quando quiseres.
Estarei ao teu lado até que eu seja deixado junto com as mobílias sem utilidade e coberto por poeira densa de um velho mundo que se resvala entre nossos dedos...

Para sempre seu,
Vincent”

Esse texto é super antigo. Qual escritor (ou pretenso) nunca se divertiu com textos ultra-românticos e tentou escrever histórias sofridas, de amores impossíveis e trágicos à altura dos cânones? Pois é, eu adorava escrever folhetins românticos há uns dez anos atrás. Hoje em dia, nem faço mais tanto isso. Mas tudo fluía com pinceladas e cores bem contemporâneas e ousadas para um padrão Romântico. E eu me divertia muito com minha professora de literatura quando ela com um risinho eloqüente e exaperado dizia "Ai, ai, menina, por que você escreve essas coisas?"

domingo, 15 de março de 2009

Electricity


"We got a love that's cold as stone. We got a love from our violent homes. We got a love and it got no name. We kiss our love with lips like pain. We got a lotta electricity. We got a love like AC/DC. We got a love and it got no shame. We kiss our love with lips like pain. We got a love like a violent mind. We get our love from white white lines. We got a love and it got no name. We kiss our love with lips like pain. We got a love from nowhere towns. We got a love like electric sounds. We got a love and it got no shame. We kiss our love with lips like pain. I said, it's bigger than the universe. It's bigger than the universe. It's bigger than all of us. It's bigger than you and me. We got a love between us and it's like electricity. It's bigger than the universe. It's bigger than the universe. It's bigger than the 2 of us. It's bigger than you and me. We got a love between us that's like electricity"


(SUEDE)

quinta-feira, 12 de março de 2009

Oulipo


Antigamente, bastava carregar dores esporádicas,
factuais, grosseiras.
Hoje, imagino já liberar (à) meia-luz,
negações oblíquas, prioridades quase ridículas,
sonhos temporários.
Um vomitado xisto zunindo.
Zango-me, xingo,
verbalizo urgência, temor.
Solidão retraída.
Quando palpito, oxido nossa maravilhosa loucura.
Juvenil inocência.
Histeria.
Gracejo fel, estilhaço devaneios
Compartilhando brutalizada alegria
(Rafa.P.)
***
“Oulipo” (Ouvroir de littérature potentielle) caracteriza um movimento fundado por matemáticos e escritores na França que se embasava na “literatura potencial”. Essa “literatura potencial” era estimulada por mecanismos, regras e propostas que procuravam desenvolver uma criatividade eficaz e quase automática através de alguns exercícios.
A proposta da professora em sala de aula consistiu em escrever frases ou poemas, cujas primeiras letras das palavras escolhidas seguissem a ordem do nosso alfabeto. O poema inteiro está escrito na ordem alfabética. Na metade, há inverção e a ordem do alfabeto é colocada ao contrário.
Expressar ao máximo a potencialidade e criatividade no pequeno espaço que é dado. Conseguir reverter a proposta ao próprio favor e criar-se algo surpreendente. Bom, o que eu posso dizer de "Oulipo" particularmente, é que às vezes, ele pode ser muito divertido. :)

segunda-feira, 2 de março de 2009


Respirar a natureza do mundo em sentidos plenos e permitir que a vida siga com uma leveza pueril. Contemplar os movimentos em espiral que se formam. Adormecer o impetuoso animal. Dormir com as portas do espírito abertas e sorrir mais vezes para o próprio íntimo. Elevar a humanidade e tornar humilde a pequena divindade que às vezes grita. Outras, não.

Contemplar a vida e admirar a sua enigmática face. Perguntar à alma e ouvir sua resposta. Suavizar-se. E deixar que a Arte murmure esse estranho círculo cartático e independente de engrenagens que rangem a profusão do sentir.

Ir de encontro ao Existencialismo bárbaro e deprimente das metrópoles. À anestesia indecente. À apatia virulenta.

Mas ainda sim, harmonizar-se. E exalar essa estranha calma. Transgredir. Transcender. Evoluir. E carregar dentro do pequeno corpo a extensão do Universo.

The Grotesque's Welcome Rhyme


"Hoje, assassinaremos as melancolias
Sangraremo-nas com gritos e foices
Três, quatro, nove, desenove... coices
Serviremos-nos de vossas fobias

Ontem, o grotesco abocanhou vossas filhas
E a bailarina prostituta roubou vosso noivo
A circuncisão começa do útero ao povo
Esporrarei-vos sem cortesia

Sob as lonas, dançaremos can can
quick-step, polca, valsa em trapézios
Encheis nossos bolsos de moedas, cães
e lhe daremos prazeres perversos...

Engoliremos pregos, cuspiremos martelos
Seremos porcos, podres, insanos
mijaremos santos, profanos
beberemos mercúrio e pus amarelo

Mas, cuidado com nosso "Grotesco"
Não garantimos sutilezas ou razão
Dêem as mãos ao incesto,
Santa loucura! Louco é o são...

Nem olheis demais para nossos rostos de dor
Nossos corpos mal-acabados
Não desejais nosso horror mal traçado
Pois, nos amarão, da maneira que for

Estou excitado! Rufem os tambores!
A bailarina, umedecida com curiosidade
Sejamos vagabundos de bestialidade
Respirem fundo, senhoras e senhores...

Vejo que se aproxima mais um de nós...

Vejo-o aproximar-se reticente
Farejo no ar a sua sombra
És tu, aspirante inocente?
Espera, cortina que tomba!"