quinta-feira, 19 de março de 2009

Let's make love and 'write' death from above...


“30 de agosto

Caro Klaus,

É patético o modo como os homens comportam-se, achando que no seu dia-a-dia já encontraram ou tocaram todas as sofisticadas belezas e sensações que o mundo pode oferecer. Sinto-me agora como um dos maiores ignorantes de minha época.
Agora, posso enxergar-me claramente e ver que jamais apalpara a sã consciência de algo superior. Somente tocara resquícios empobrecidos e miseráveis.
É graças à ti, sobrinho adorado, que pude contemplar a luz ontem à noite. Tê-lo em meus braços com a intensidade com que te entregaste a mim foi como ser assolado pela mais plena alegria. Ainda tremo ao lembrar de teus olhos tão cálidos e embaçados por filetes de felicidade que brotavam de teu coração.
Tocamos o Paraíso com nossos dedos ávidos. Era como a Índia de minha infância que quero que um dia conheças. Senti o aroma característico e a paz que há muito não sinto. Vi-te chegando até mim com tatuagens de henna por teu corpo mirrado e murmurando orações no mais exótico dos dialetos. A mais bela “Padma”. Uma Flor de Lótus com enormes olhos verdes e cabelos claros que caem sinuosamente por um rosto que faz poetas suspirarem. Ontem, pude enxergar meu amor quando o toquei. Não somente o ópio levou-me para essa maravilhosa realidade alternativa onde tu eras minha noiva. Minha princesa indiana.
Nossos sentimentos são os principais responsáveis. Para o inferno com coerências e verdades absolutas que nos forçam a acreditar. No fim de tudo, é melhor a loucura. Podemos ser como quisermos. Nada mais será como o que foi há tempos que parecem distantes como sonhos embaçados e mofentos. Meus olhos tornaram-se maiores com tua graça, Klaus. Cada beijo que trocamos foi uma afronta a esse mundo e um passo para aquilo que chamas de Inferno. Nossos gozos são lírios em teus lábios ou em minhas mãos.
O momento que te conheci veio à minha cabeça. Lembro-me de que apesar de tua inocência já perdida na noite em que te toquei pela primeira vez, tremias como uma virgem que é apresentada ao carrasco. Havia medo no mar barulhento de tuas pupilas. Dei-te a oportunidade de recusar-me. Porém, com tua coragem da qual ainda sou um servo que se ajoelha, tu aceitaste. Tu fechaste teus olhos de boneca e pensaste: “Eu irei com ele. Eu quero fazer parte de seu mundo...”. Agora já é tarde demais, amor....
Tarde demais até para tua juventude que me lembra as flores de primavera que antecederam seu tempo de desabrochar e acabaram perecendo na neve de uma manhã sem harmonia.
No fim das contas, como todos os infelizes, possuo emoções. Mesmo que digam o contrário não sou um mero devasso que pratica as mais incabíveis luxúrias sob seu teto...
Dentre as minhas mágoas, desconheces a maior delas. Esta me assola quando encontro-me sozinho em meu gabinete e projeto-te diante de meus olhos daqui a alguns anos. Vejo-te como um homem e não um jovem precoce. Consigo visualizar-te usando roupas sóbrias e escuras, deslizando languidamente com cabelos bem cortados por entre nevoeiros densos de uma Londres moderna. Teu destino, deduzo eu, seria a casa de alguém de tua idade que cortejarias.
Eu, por minha vez, já estaria morto observando de algum lugar os conservadores que ainda estivessem vivos cuspirem com gosto sobre meu túmulo. Ou então, estaria louco e inválido, vivendo uma vida miserável. Seria um estorvo decadente para ti. Todos os dias antes de saíres para encontrar a pessoa com quem te importaste, olharias-me com rancor e uma mistura de asco e pena. Tu me ojerizarias. Um velho que precisaria da ajuda de terceiros para ainda assim viver uma semi-vida. Lembrar-te-ias com pesar daquele tio que o envolvera em sua vida triste, apontando-lhe um mundo de nojeiras fétidas.
Eu choraria com meus olhos opacos e morreria a cada dia.
Não nascemos na mesma época. Talvez seja esse meu castigo.
Não há somente o presente. Existe um futuro incerto e exigente que me faz lembrar o tempo todo que a minha velhice é um breve murmúrio de derrota perto de tua exuberância e frescor juvenis.
Ironicamente, não consigo mesmo assim me afastar de ti. Acho-te muito parecido comigo. Comemos da mesma imundice e bebemos da mesma latrina. Porém, todos teus pecados são perdoados por tua pouca idade. Pouca idade esta que talvez um dia amaldiçoe. Se daqui a alguns anos, no entanto, minha vida for o martírio, aproveitarei esse presente extasiante. Através de meu sentimento por ti, vejo todas as cores de um mundo muito superior a este. Um mundo onde o sol é quente e avermelha tuas faces pálidas.
Permanecerei contigo até quando quiseres.
Estarei ao teu lado até que eu seja deixado junto com as mobílias sem utilidade e coberto por poeira densa de um velho mundo que se resvala entre nossos dedos...

Para sempre seu,
Vincent”

Esse texto é super antigo. Qual escritor (ou pretenso) nunca se divertiu com textos ultra-românticos e tentou escrever histórias sofridas, de amores impossíveis e trágicos à altura dos cânones? Pois é, eu adorava escrever folhetins românticos há uns dez anos atrás. Hoje em dia, nem faço mais tanto isso. Mas tudo fluía com pinceladas e cores bem contemporâneas e ousadas para um padrão Romântico. E eu me divertia muito com minha professora de literatura quando ela com um risinho eloqüente e exaperado dizia "Ai, ai, menina, por que você escreve essas coisas?"

3 comentários:

Priscila disse...

ééé, ela bem que gostava!
acho que você foi até as máximas profundezas desse universo ultra-romântico, dissecou e revelou tudo de humano que há nele, sem ocultar belezas e horrores.
Sempre admirei a naturalidade com que você se desprende de si mesma e alcança um todo e o mostra para todos sem nada esconder!

Anônimo disse...

Isso tudo foi culpa de uma época marcada por yaoi, Índia e Oscar Wilde (na Literatura Comparada). Tudo desembocando para o bom e velho Romantismo! ^^

Anônimo disse...

Ich entschuldige mich, aber meiner Meinung nach sind Sie nicht recht. Geben Sie wir werden besprechen. Schreiben Sie mir in PM, wir werden reden. cialis ohne rezept cialis 5mg nebenwirkungen [url=http//t7-isis.org]levitra kaufen ohne rezept[/url]