sexta-feira, 20 de março de 2009

Quarta-feira

By: Priscila Azulay

Quarta-feira é dia. Tudo sempre acontece na quarta. Parece que tem mais gente nas ruas, nos ônibus. Sempre tem mais coisas pra fazer.

Pra mim, pelo menos, desde criancinha, era sempre o dia em que as aulas iam até mais tarde. Era sempre o dia que começava com dois tempos diretos de matemática e depois dois de português. Era também o dia de cursinhos de inglês e ginástica. Nada contra todas essas coisas (bem, contra matemática eu tenho). Mas tudo junto num dia só ninguém merece. Estão falando em interdisciplinaridade. Já vem tarde, porque finalmente matemática, português, física e história fariam sentido juntos. Enquanto isso, podiam estudar melhor essa distribuição. Qual o problema com a quarta? Só porque não está nem cá nem lá tem que ter tudo de cada um? Aí, fode...

E estudar astrologia seria bom também para organizadores do calendário escolar. Quarta-feira é dia de Mercúrio, deus dos mensageiros. Por isso o mundo está sempre cheio de coisas a serem ditas na quarta. Tem que sobrar tempo pra gente bater papo também.

Vinte e tantos anos e cá estou ainda na luta toda quarta. Rafa também. Nessa última não podia ser diferente. Oito da manhã, "Prática de Ensino", que pra Rafa significa acordar às cinco da manhã. Que não vai ter prática nenhuma antes de dar a volta ao mundo pra saber de horário e afins.

Vamos Rafa e eu pro Fundão depois da aula. Na volta, a primeira bizarrice do dia. Um cara na van dando em cima de mim. Acreditar no destino é uma merd@, porque me faz dar corda pro primeiro maluco que aparece, não importa onde. O cara começou lendo o meu jornal comigo e terminou me oferecendo o headphone pra escutar com ele. Não é que o gosto musical batia? Rafa vira pra trás, se assusta, e discretamente: “Quem é?” Não sei. Acabei de conhecer. E ela, como já me conhece, releva. Valeuzão, Rafa. Você é muito compreensiva. E desculpa quase fazer você correr comigo atrás da van quando me toquei de que fui idiota não pegando o e-mail do doido. Todo doido reconhece um igual. Em outras palavras... não preciso dizer. Talvez eu o encontre numa comunidade do Orkut; “Pegação na van”. Se não tiver, eu fundo. E alguma hora ele entra.

Deixando o maluco de lado, chegamos em casa sob o sol de meio-dia e sabendo que a luta ainda estava no meio. Almoço, uma horinha pra reinar no sofá, e fora de casa. Atrás do estágio. Passando um papo furado de tapioca na praia, convenço a Rafa a ir andando. A expectativa de uma tapioca a cada esquina nos motivava a seguir. No final, porr@ nenhuma de tapioca. Desculpa de novo Rafa, mas eu adoro caminhar contigo!

Na escola, descobrimos que não dava pra descobrir nada. No caminho de volta, sentamos no Habibs (se escreve assim, essa poh@?) da praia. Finalmente, um descanso. Papo vai, papo vem. Ventania vai e vem... Um relâmpago vai, outro vem. E quando nos demos conta, estávamos ilhadas no meio do dilúvio, abrigadas apenas pela barraca do Habibs. Dois rapazes israelenses (ou suecos, ou húngaros) estavam presos conosco. Pena estarem com a mãe. Bem que eles tentaram se chegar quando nos viram tremendo de frio. Rafa estava encolidinha tentando se aquecer e o israelense (ou sueco ou húngaro) começou a fazer gestos para ela, dizendo que não sentia frio nenhum. Que sentia muito calor com o nosso clima. Com um sorrisinho fez cara de sedutor israelense (ou sueco ou húngaro).

Safadinho, não?

Duas horas depois, quando a chuva deu uma (pequena) trégua, pegamos um táxi gelado, no qual o taxista me deu um forão quando pedi pra desligar o ar condicionado. Ensopadas, parecendo dois pintos molhados, chegamos em casa. Nos munimos de guarda-chuvas (pro diabo com a reforma ortográfica! Hífen, é nós!) e fui deixar a Rafa no metrô. No metrô, um homem barbudo e à toa queria levar todos para Caxias e se esgoelava na estação Siqueira Campos, dizendo que quem com ele estava, estava com Deus. Seria melhor ele como divino, apresentar então uma arca para atravessarmos o dilúvio. A chuva a essa altura, voltara a ser torrencial.
Terminamos o dia "felizes", com sensação de deveres cumpridos, e a Rafa com um pique admirável pra quem tinha acordado tão cedo!


Essa mulher não dorme nunca. Isso é um mistério. Juro. Parece uma coruja.

Falando em animais, não posso esquecer de mencionar o felino malhado e filhote que encontramos na UFRJ, que fez o maior pouco caso quando o pegamos no colo, mas que é lindo de qualquer jeito e é o mais novo mascote da Letras!

Fora isso, quarta-feira é sempre uma droga. Só lamento.

Particularmente, nem gosto muito de utilizar blog com a finalidade narrativa do cotidiano. No entanto, Priscila produziu esse texto e me senti no direito/obrigação/desejo de publicá-lo. Porque é fato que nem toda quarta-feira é catastrófica, mas que a maioria dos desastres ocorrem de fato na quarta.

E a melhor maneira de combatê-la é com bom humor. Essa quarta foi tranqüila (trema forever!) em relação a muitas outras bem piores. No fim de tudo, o que se sobra é o risinho. Bom humor nela! Valew, Priscila! ;)

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