terça-feira, 28 de julho de 2009

Young Men


Tony lê apenas pornografia asiática. Danny dança 'The doves' nas raves. Terry bebe todo o seu dinheiro. Por Deus, e seus filhos tocam bateria o dia todo. Vamos dizer que o punk não está morto. Mick não é impecavelmente bem criado. Paul simplesmente não consegue sair da cama. Oh Deus, e Phil ainda está fora de si.

No cenário, entre os desempregados, em seus olhos, em sua alma. Os jovens. Vocês são únicos. São o cenário. O sistema. São os filhos. São os jovens. Jovens, aí vamos nós novamente.


Enganando suas esposas, todos os ternos brilhantes e mentiras desleixadas, os jovens.
Insultando a todos, pegou a sua irmã, chutou seu filho, os jovens. Brigando nos clubes, com faróis nas ruas, dinheiro nos pubs, os jovens. Embebedando-se no vagão do trem com champanhe barato, os jovens.


(SUEDE)

Su [sol] tura


"Estávamos nós no espaço entrecortado por nossas respirações. Enquanto eu costurava as pérolas mais belas em seus mamilos eriçados por meus toques. Esses aos quais minha boca se acostumou em brincadeiras irritantes. Lembre-se que fui eu que lhe causei a tamanha dor, a tamanha agonia dessas agulhas enferrujadas perfurando seu cerne. Repuxando fios. Retorcendo.
Lembre-se que não tenho medo de nada no mundo. Que nada mais temo. E que é nos espaços em branco, nas partes aguadas, diluídas, em hiato de toda essa nojeira humana, que eu me amplio por uma beleza inefável. Quase translúcida.E que domino a dor. A minha e a sua, por acréscimo de amor benevolente. Deus ainda amparou a de todos.
Nada posso, tenho ou quero com a humanidade. Mas reproduzo na carne, essas escaras, essa sarna da alma. E veja o estereótipo parafílico que nos tornamos, expurgando o que deveria ser inato.
Eu costurava as pérolas mais belas em seus mamilos. Reproduzindo o trabalho contínuo e interrupto da dor. Repuxava. Retorcia. Como a tecelã da vida.
E nada se fala mais sobre essas coisas. Porque só por um desatino o homem busca na calamidade a única paz. Tal qual busca a centelha de real ser, de transcedência na guerra. Mas, nesta guerra lateral, incessante que reproduz-se por trás dos ossos, desse universo miúdo e macio de pele com perfume também interrupto, estende-se a batalha silenciosa que dura o quanto durarmos. Nem uma hora a mais. Nem um segundo a menos. E essa, somente também no caos se torna um pouca esquálida. Se verga.
Espalha-se intimamente pelo ruído de objetos cortantes, baques surdos, golpes surdos, palavras cortantes. Todas as contradições da natureza humana em âmago profundo. Na mais bela incompreensão. Na bela insesatez das coisas. Que se arrebenta na libertaçaõ de nada mais sermos. Sermos menos do que é permitido.
E essa, por segundos, é a verdadeira liberdade."

(Seis extremos antes de sonhar_ Rafaella P.)

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Laços


Quem não saber conviver com seu próprio atrevimento, quem teme a sua própria bestialidade, as suas sombras, e corre para a multidão a fim de pouco se ouvir, pouco se entender, pouco se querer, destrói o laço mais profundo que pode se estabelecer, nessa conjuntura formidável e plena do homem para consigo mesmo.

Poucos realmente exalam a audácia de inclinar-se sobre suas cabeças dissecadas, seus corações à mostra, suas pulsantes insensatezes. Costura-se tudo por detrás do inconsciente e vive-se em meio a paliativos de sal.

O que eu quero? O que eu quero quando remexo coisas que nem sei o nome? Quando violo túmulos e me abraço em meio à descobertas e fantasias?

A Vanguarda, o novo, é o inominavel. É consolidar o disforme. É descobrir o quê se revolve escondido aqui dentro por tanto tempo. Dominá-lo silenciosamente como sempre nos dominou. Esperar 21 séculos para que ele descubra. E nutri-lo com esses coágulos vivos de realidade a priori.

Sirène


"Derramou seu amor confidencial, alcalino enquanto ouvia a ópera atravessar as paredes que ergueram e erguiam ao seu redor. Ouviu Mozart. Rainha da Noite.

Isabelle possuía braços finos, lábios finos, pernas finas. Consolidava-se como formas longilíneas de sobriedade e caos. Se a pressionasse mais, quase podia quebrá-la. Se a apertasse mais, podia despedaçar. Magoar sua pele. Sentir os seus ossos. Era daqueles tipos de garotas anoréxicas. Muito pequenas. Quase ilusórias em sua leveza de indecisão entre física e metafísica. Estranhamente, transmitindo infinito.

Não houve dor, nem aquela força descomunal de ternura extraída. Nunca provocada.

Não foi breve. Nem incorpóreo, ou insípido. Incômodo ou incoerente. Inconcebível ou insensível.

Era o estranho assentamento de emoções. O caos se camuflando de calmaria para novamente recomeçar. Era o som agudo da Rainha da Noite ferindo os pés dos anjos. A poeira de dias secos deitando-se sobre o chão. Sobre elas.

O mundo arcava com todos os sentidos. A feminilidade habitando em si. Era a felicidade em manhã de domingo infeliz. Todas as disparidades adolescentes que se ampliam em profundidade sem razão. Que movimentam a dureza humana no mais emotivo frêmito. Todo o universo intransponível. Com Isabelle. Em Isabelle. Para Isabelle, seu amor."