Mas insistia porque não sabia o que fazer com a euforia de suas vontades. Com seus sonhos obscuros. De anatomias semelhantes. De formas sinuantes. Nunca retas.
Então, os atraía com a beleza de seu olhar. Com sua voz perigosa. Quase sonora. E permitia que fizessem o que quisessem do umbigo para cima, mantendo unidas as trêmulas pernas.
Inevitavelmente, eles se apaixonavam. Aprisionavam-se em seu desejo parcialmente saciado. Afogavam-se em paixão não-correspondida. E Maria seguia também com seu desejo parcialmente saciado. Ninguém encontrava o que procurava. E nada se falava sobre isso.
Exceto por aqueles muitos que comentavam sua conduta. Garota de boa família vagabunda. Uma vergonha para seus bons pais. Quase uma mulherzinha. Anda por aí se esfregando com todos os rapazes.
E a micro-sociedade se equilibrava. Pervertendo tudo que podia ser profundo. Tornando rasas as metáforas. Classificando as dualidades.
Logo, as línguas ferozes, ofídicas, bifurcadas arrancaram-lhe o hímen. A ação da qual nenhum rapaz conseguiu sequer aproximar-se. E isso lhe sangrava um pouco.
Não existiria uma Vênus com nome santo. E ponto."