sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

No tempo do antes


Da época em que gritava, guardo o cansaço
A tensão na espinha
E os teus dedos saltitando pelas vértebras
Como mãos em xilofone,
Quando tu me chamavas em diminutivos
Na idéia de aprisionar a verdadeira besta,
Cujas sílabas do nome estourariam tímpanos,
Tropeçando na boca que beija
As costuras de meu joelho
A cicatriz que coça
Termômetro de chuva
De ira, de bílis, de sangue escaldado
E tu me condensavas
Com beijo, com febre, com ira em estado alegre
E o mundo se tornava quase um sussurro
Um chiar de animal adormecido
De unhas rabiscando o chão, a ti
Aprisionando o abstrato, o jorro
Para que sejam eternos no momento sem escritora
Sem tinta, sem papel
E que não se faz poesia
Mas a vive quase violentamente
No esmiuçar de mim mesma
No coagular de sentimento
De sentido
Sem ti, dor
No ofegar da calmaria
que gravita...

2 comentários:

Priscila disse...

Anaïs Nin falou sobre como o artista mergulha com tudo na vida, mas depois volta à superfície para registrá-la. Acredito que todos temos momentos sem escritor, em que somos nossa própria obra de arte, e momentos de pensadores... e um não exclui o outro!
suas palavras trazem esse contraste fascinante com toda a força e habilidade de sempre Rafinha!

Anônimo disse...

A Vanguarda diz isso né? XD
Usar o próprio corpo, o próprio espírito como fonte de Arte. Parece meio conveniente dizer isso. Enfim...
É catártico. Revolver o passado e trabalhá-lo com maestria. Expurgá-lo. Elevá-lo. Compreendê-lo... Enfim.
Tudo é digno, né?