quarta-feira, 22 de julho de 2009

Sirène


"Derramou seu amor confidencial, alcalino enquanto ouvia a ópera atravessar as paredes que ergueram e erguiam ao seu redor. Ouviu Mozart. Rainha da Noite.

Isabelle possuía braços finos, lábios finos, pernas finas. Consolidava-se como formas longilíneas de sobriedade e caos. Se a pressionasse mais, quase podia quebrá-la. Se a apertasse mais, podia despedaçar. Magoar sua pele. Sentir os seus ossos. Era daqueles tipos de garotas anoréxicas. Muito pequenas. Quase ilusórias em sua leveza de indecisão entre física e metafísica. Estranhamente, transmitindo infinito.

Não houve dor, nem aquela força descomunal de ternura extraída. Nunca provocada.

Não foi breve. Nem incorpóreo, ou insípido. Incômodo ou incoerente. Inconcebível ou insensível.

Era o estranho assentamento de emoções. O caos se camuflando de calmaria para novamente recomeçar. Era o som agudo da Rainha da Noite ferindo os pés dos anjos. A poeira de dias secos deitando-se sobre o chão. Sobre elas.

O mundo arcava com todos os sentidos. A feminilidade habitando em si. Era a felicidade em manhã de domingo infeliz. Todas as disparidades adolescentes que se ampliam em profundidade sem razão. Que movimentam a dureza humana no mais emotivo frêmito. Todo o universo intransponível. Com Isabelle. Em Isabelle. Para Isabelle, seu amor."


Um comentário:

Priscila disse...

essas linhas ficaram especialmente leves, como um momento de repouso depois de muita intensidade, como uma calmaria antes da tempestade. Ou mais ainda, como alguém que se permite sonhar um instante...
combinou com a leveza da Isabelle.
gostei dessa conformidade do corpo dela com o espírito, acredito que matéria e alma refletem-se mutuamente!