terça-feira, 28 de julho de 2009

Su [sol] tura


"Estávamos nós no espaço entrecortado por nossas respirações. Enquanto eu costurava as pérolas mais belas em seus mamilos eriçados por meus toques. Esses aos quais minha boca se acostumou em brincadeiras irritantes. Lembre-se que fui eu que lhe causei a tamanha dor, a tamanha agonia dessas agulhas enferrujadas perfurando seu cerne. Repuxando fios. Retorcendo.
Lembre-se que não tenho medo de nada no mundo. Que nada mais temo. E que é nos espaços em branco, nas partes aguadas, diluídas, em hiato de toda essa nojeira humana, que eu me amplio por uma beleza inefável. Quase translúcida.E que domino a dor. A minha e a sua, por acréscimo de amor benevolente. Deus ainda amparou a de todos.
Nada posso, tenho ou quero com a humanidade. Mas reproduzo na carne, essas escaras, essa sarna da alma. E veja o estereótipo parafílico que nos tornamos, expurgando o que deveria ser inato.
Eu costurava as pérolas mais belas em seus mamilos. Reproduzindo o trabalho contínuo e interrupto da dor. Repuxava. Retorcia. Como a tecelã da vida.
E nada se fala mais sobre essas coisas. Porque só por um desatino o homem busca na calamidade a única paz. Tal qual busca a centelha de real ser, de transcedência na guerra. Mas, nesta guerra lateral, incessante que reproduz-se por trás dos ossos, desse universo miúdo e macio de pele com perfume também interrupto, estende-se a batalha silenciosa que dura o quanto durarmos. Nem uma hora a mais. Nem um segundo a menos. E essa, somente também no caos se torna um pouca esquálida. Se verga.
Espalha-se intimamente pelo ruído de objetos cortantes, baques surdos, golpes surdos, palavras cortantes. Todas as contradições da natureza humana em âmago profundo. Na mais bela incompreensão. Na bela insesatez das coisas. Que se arrebenta na libertaçaõ de nada mais sermos. Sermos menos do que é permitido.
E essa, por segundos, é a verdadeira liberdade."

(Seis extremos antes de sonhar_ Rafaella P.)

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