domingo, 28 de outubro de 2007

Oulipo

Pois é, eu sou noctívaga. Minha irmã compreensiva diz que todos os gênios são noctívagos, mas eu acredito que os gênios fiquem criando genialidades em meio a seus hábitos noturnos e não vagando pela casa feito chinchilas. Logo, sou chinchila e não, gênio.

Em especial, aproveito as horas noturnas para refletir sobre algumas peculiaridades do dia que vivo em processo de constante sono. Acho que a consciência se torna mais intensa. Os sons, mais significativos. O silêncio que às vezes é uma bênçao durante as manhãs é interrupto à noite. Nas rádios, tocam as melhores músicas. As pessoas estão anestesiadas...

Por isso, quando estou em casa durante a madrugada, é certo estar aqui e ali, maquinando ou vagando. Encontrei recentemente durante uma madrugada em que estava organizando uns papéis bagunçados dos períodos passados, a matéria das professoras Ana Alencar e Ana Maria.

Era justamente o que queria encontrar: Oficina de literatura em “Oulipo”.

“Oulipo” (Ouvroir de littérature potentielle) consiste em um movimento fundado por matemáticos e escritores na França que se embasava na “literatura potencial”. Essa “literatura potencial” era estimulada por mecanismos, regras e propostas que procuravam desenvolver uma criatividade eficaz e quase automática através de alguns exercícios.

Segundo “Oulipo”, qualquer pessoa possuía a capacidade de escrever, não sendo isto um dom, porém sim, uma técnica que quando bem explorada atingia resultados inesperados e muito satisfatórios.

Algumas das obras dos membros de “Oulipo” que fugiam bastante do senso comum, alcançaram notoriedade. Dentre elas, “Exercices de Style” de Queneau, na qual o autor narra uma história particularmente simples de noventa e nove maneiras diferentes, em diferentes estilos.

Em outra obra, um seguidor de “Oulipo” escreveu um romance inteiro sem a letra “e”, o que parece surpreendente, dado o número de vocábulos na língua francesa que são grafados com a letra “e”.

Outros autores faziam ainda combinações de palavras que podiam ser lidas de milhões de maneiras diferentes ou textos que quando lidos diretamente diziam algo e quando lidos ao contrário, diziam o oposto.

A matéria optativa da faculdade propunha a produção de textos dos alunos através de alguns exercícios de “Oulipo”. Houve a presença de textos por parte de alguns alunos que deixaram as professoras e a turma literalmente de boca aberta.

Eu, particularmente, discordo em um aspecto de “Oulipo”. Discordo da idéia de que qualquer um pode produzir excelente escrita, independente de seu interesse ou desenvolvimento. Pois tenho para mim que do momento em que uma pessoa procura “Oulipo” para desenvolver técnicas, já possui uma produção literária própria e inclusive, tem muito interesse em escrita, mesmo que sua profissão seja voltada para matemática, ciência ou medicina.

Na sala, havia alunos que faziam sociologia, história, geografia, etc. No entanto, todos liam muito e já produziam por si só, textos. Ou seja, o dom da escrita estava lá. Não eram pessoas iniciantes sem um preparo prévio e muito interesse. Caso contrário, não se inscreveriam em uma matéria optativa de outra área.

Bom, enfim...pretendo postar aqui alguns poucos textos de “Oulipo” feitos em sala de aula na próxima semana se houver tempo. :)

Um comentário:

Stênio disse...

Estou curioso sobre esse tal de Oulipo... Se bem que achei um exercício um tanto quanto estranho.
Escrever para mim é expressar minha ideologia e sensibilidade com relação ao mundo, e não me agrada a idéia de não poder fazê-lo de maneira plena, enquanto me preocupo com regras "originais" de escrita em dificuldades extremas...
Publique alguns trabalhos, posso estar enganado...
Forte abraço!