quarta-feira, 20 de maio de 2009

Aquário


Descubro sem surpresas que meu coração possui voz. Invade meus sonhos para sibilar o camuflado. Invade todo esse espaço de vida para colorir os contornos. Invade algum espaço dessas linhas. Palpita atrás das paredes sangüíneas em frêmito de cordas vocais.

Se eu não fosse tão Aquariana, usaria ele bravamente e errante por esse vasto mundo. Se eu não possuísse um cérebro metido a sentir também as coisas, a farejar as causas, conseqüências e afins, estaria por aí me esvaindo em veias e miocárdio. Aliás, eis o que se espera de alguém que nasceu realmente entre os dias 21/01 e 18/02. Espera-se que sinta com o cérebro e pense com o coração. Espera-se que seja futurista e perspicaz. E também que se delicie com todas as coisas abstratas do mundo. Com tudo que não pode ser preciso, provado ou comprovado. Com tudo que intui e permanece em suspenso. Com desenhos inacabados que devam acabar de ser preenchidos para existirem. Com Gestalt. Com surrealismos.

Espera-se de Aquarianos que sejam duvidosos. Nunca precisos. Sim, isso mesmo! Homens com um trajeto, um gesto delicado e suave. Mulheres com maneiras brutas ocasionalmente. Indefinição ainda que sutil.

Comportar masculino e feminino em si próprio é típico dos Aguadeiros. Juno e Zeus. Shiva e Parvati. Platão ficaria “orgulhoso”. E que nunca se fragmente a nossa capacidade de ser ambos e nunca um. De racionalizar. De intuir. De saber que a parte que completa reside na nossa alma. Que somos homens e mulheres de nós mesmos.

E que quando amamos não acreditamos nessa palhaçada de encontrar algo que está faltando. Porque esses espaços em branco, preferimos nós mesmos preencher. Amor se faz por acréscimo a um inteiro e nunca pela ocupação de ausências. Equilíbrio, encontre cada um sozinho.

Aguadeiros. Seres de olhares cáusticos. Displicentes por vezes. Apáticos. Quase irritantes. Blasés. Frios. Febris de vez em quando. Sabem chorar com elegância, mas sofrem com grosseria. Exagerados. Fazem um drama. Um infinito drama que um dia acaba antes de corroê-los demasiadamente aqui e ali.

Às vezes, eles ventam para longe. Em forma de tornado. Mas quando desejam, quando podem finalmente brisar, voltam. Aliás “ar” é o elemento de Aquário.

Aquariano gosta de amigos. De bons amigos. De amantes não óbvios. De misticismo esfarelado. De inalcançável em vislumbre. De magia interna. De crer em si mesmo. De otimismo pueril. Quase inconcebível.

Aquarianos defendem suas causas com unhas. E a si mesmo com dentes. Ideológicos, revolucionários, anti-convencionais... podem ser também bons astrólogos.

Aquariano é o colidir suave de futuro turbulento com presente estático. É eletricidade estourando ampères. É ser de crenças absurdas. É velho ou jovem carregando jarro transbordando de sabedorias forjadas no ego. Poções de infinito ser. É aquele que crer que uma simples conjunção estelar pode determinar personalidades e arquétipos.

Afinal, Aquariano pode crer em tudo. Desacreditar é ultrapassado. Determinar é ultrapassado. E o passado merece luto. Sepulcro. Cova. Precisa parir um futuro diferente. Precisa conceber Revolução em estado de tempo. Entre os ponteiros. Entre os meses. Nas mãos de Chronos.

O décimo primeiro de doze gravita até Peixes para recomeçar seu permanente ciclo.

E dessa vida pensa... Não se pode preencher a porra de todos os desenhos, nem ligar todos os pontos, nem completar as lacunas. Pode-se criar mais alguma delas e torcer para que outros cismem como cismamos. Muitas das Revoluções se fizeram sem passeatas. Muitas explodiram em nosso íntimo e chegaram apenas a alguns quilômetros. Não houve a divina grande mudança.

Mas quer saber? Sempre haverá um futuro... E esse poderá ser melhor.Sempre podemos aperfeiçoar a porra da Vanguarda. Ser delicosamente rebeldes ao que já está pré-estabelecido. Ser excêntricos. Futuristas. Otimistas.

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